O AMOR ROMÂNTICO
O amor romântico move muitas relações pessoais, quer estas se estabilizem ou não. Transcende a mera relação sexual, embora quase sempre a in clua. Em sua essência, contém uma série de identi ficações, de afinidades, que resultam em admira ção ternura, desejo, respeito e cuidados. O amor romântico é egoísta, exclusivo e leva a um certo isolamento. A música que inspira a alma dos amantes exis te dentro deles e no universo particular que o cupam. Dividem-se entre si; não a comparti lham com a tribo – ou com a sociedade. A co ragem de ouvir essa música, e de respeitá-la, é um dos pré-requisitos do amor romântico. Essa forma de amor será, então, aprovada ou desaprovada pelo sistema? A evolução do amor romântico, é examinado ao longo da história, sendo situado em diferentes é pocas e culturas. Se transpusermos suas refle xões para o momento atual,veremos que o amor romântico é desaprovado quando se estabelece entre pessoas que saem de sistemas natagôni cos e/ ou quando ameaçam a sobrevivência e o desenvolvimento de interesses da coletividade. O próprio isolamento dos enamorados pode ser tomado como rejeição e desafio. Passado o pe ríodo de paixão, existindo afinidades favoráveis aos valores familiares e sociais vigentes, o mor romântico é alvo de aprovação. Ele tende a ser abençoado naqueles contextos em que dá forma a ideais compartilhados pelas famílias de origem de ambos os parceiros, forti ficando-lhes um narcisismo sadio ou patológi co. Aqui, o amor romântico retrata e fortalece identificações, prometendo continuidade às ta refas que vem sendo repassadas através das gerações. A evolução dos tempos e a integração com sis temas diferentes, em um espaço mais amplo, gera uma tendência a que se introduzam novo valores. Os antigos passam a ser questiona dos através de palavras ou de ações. O ena moramento por um parceiro distante e/ ou pro ibido plastifica o conflito entre o desejo e os seus impedimentos. Aparentemente, são dois indivíduos que cor rem nessa direção. Por baixo das evidências, carregam conflitos sistêmicos e gritam ao mundo anseios soterrados, porém cada vez mais cheios de vida. Os amantes são admirados, não por tipifica rem suas sociedades, mas por se rebelarem contra elas. Os amantes são inesquecíveis, por serem incomuns.Seu amor desafia os có digos morais e sociais de uma cultura, e suas histórias são trágicas, porque os amantes são derrotados por esses códigos. É verdade. Mas não é verdade. Os amantes emocionam, porque as pessoas Identificam-se secretamente com eles. Com os mesmos anseios, os mesmos temores e com o risco de trilharem idênticos e trágicos cós destinos se ousarem transgredir as leis impostas. Então, esses amantes retratam re alidades ocultas, algo como o que transita pelos subterrâneos de um castelo antigo. Os amantes são inesquecíveis, porque a socie dade alimenta uma memória histórica que a um só tempo: - alivia-lhe as pressões, revelando indireta mente seus segredos; - reforça-lhe as pressões, recolocando ad vertência a possíveis transgressores. Os amantes são derrotados pelos códigos, mas também introduzem e reforçam uma lenta alteração nesses mesmos códigos. Histórias que antigamente se transformari am em tragédias, hoje soam nostálgicas, quase sem sentido, porque já não mais re presentam uma afronta de valores atuais nem sofrem ameaça alguma. O amor romântico atual tende a ser fruto de profundas afinidades.Representa riscos, quando se fixa em idealizações, não supor tando as devidas desidealizações, nem conservando os laços de ternura e a capaci dade de um feliz entendimento quando se impõe a realidade e a rotina. Representa estabilidade, crescimento e prazer quando o dia-a-dia confirma e ampli a as sintonias, reservando espaço para a intimidade dos parceiros e para os demais seguimentos de suas vidas, nos quais com partilham a individualidade com outras pes soas particularmente s ignificaivas. A pe quena e grande família, os amigos, os cole gas de trabalho e a coletividade, em um sentido mais abrangente, em lugar de se sentirem ameaçados e excluídos, sentem que os parceiros que se amam e que se entendem não se aprisionam nem se sufo cam, mas continuam abertos para um co vívio espontâneo e tranquilo. Alice Pinto 06/05/2010 escribalice
Enviado por escribalice em 07/05/2010
Alterado em 07/05/2010 Copyright © 2010. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |