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 Um perfeito momento
Em algum ponto ao longo da estrada entre o "princípio e o fim", há um momento perfeito para todos os seres vivos.
O meu surgiu quando eu tinha oito anos. Acordei numa noite de primavera com a luz da Lua inundando o meu quarto. Não havia o menor ruído. O ar estava agradável e carregado da fragância de pereiras e madressilvas.
Deixei a cama e saí de casa na ponta dos pés. Mal fechei a porta, deparei com minha mãe sentada nos degraus da varanda. Ela olhou para mim, sorriu, me puxou para o seu lado e me abraçou. Todo o campo estava silencioso; não se percebia outra luz que o luar, tão brilhante que se podia ver o contorno escuro dos bosques bem ao longe. Nosso cachorro atravessou o gramado e veio, alegre, se espreguiçar, colocando a cabeça no colo de mamãe. Durante muito tempo ficamos os três perfeitamente imóveis. Sabíamos que no escuro dos bosques havia movimentos e sons de animais - coelhos, esquilos e gambás; e no jardim ensombrecido e nos campos, plantas crescendo. Em breve os botões das árvores frutíferas deixariam cair suas pétalas numa nevasca branca e rosada, e em seu lugar os frutos apareceriam. As ameixeiras silvestres ficariam cobertas de ameixas, redondas e luminosas como minúsculas lanternas, adoçadas pelo sol e refrescadas pela chuva. Pequeninos melões daí a pouco salpicariam as gavinhas rasteiras onde flores se enchiam de néctar, preparando-se para a chegada das abelhas pela manhã. Em todo esse enorme silêncio que parecia infinito, o milagre da vida se ia processando invisível e inaldível, dirigido e mantido pela onipotente e delicada mão do Criador. Uma criança de oito anos não analisa seus pensamentos; pode nem mesmo ter consciência de estar rodeada pelo infinito; mas vê uma estrela no alto de um ramo de cedro e sente-se completamente feliz. Ouve um pássaro cantando ao luar e fica transbordante de uma alegria inexprimível. Sente o afago dos braços de sua mãe a envolvê-la e com isso experimenta uma sensação de segurança total. O crescente e impetuoso processo da vida, o movimento dos mundos e a fluidez das marés podem ser incomprensíveis para ela, mas, no entanto, ela pode ter a estranha consciência de que espiou através de uma porta aberta e viveu um momento perfeito que ficará como registro vivo em sua lembrança...  escribalice
Enviado por escribalice em 10/12/2011
Alterado em 11/12/2011 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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